segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Chef (2014)






Aviso: Se tem fome, coma antes de ver este filme.
Coloquei este aviso antes do texto porque eu não comi e decidi ver o filme. Resultado: assaltei a cozinha assim que o filme acabou. 
Nunca imaginei o ator - e agora realizador - Jon Favreau produzir um filme tão...apetitoso. Tirando os clichés normais, o "Chef" é uma película de ver e chorar por mais.
A história que envolve o protagonista, cujo nome é Carl Casper, é vulgar: divorciado, um filho, chef de um restaurante (cujo dono é nem mais, nem menos Dustin Hoffman), infeliz por não ter liberdade numa cozinha que, supostamente, deveria estar sob o seu comando, mas grato por poder ir quase todas as noites para casa com a rececionista do restau


rante em que trabalha, Molly (Scarlett Johansson).
A sua vida é vulgar até ao dia em que o crítico mais famoso de Los Angeles decide provar a ementa do chef Carl Casper. Como já seria de esperar, e é aqui que está o primeiro cliché do filme, este crítico arrasa completamente com Carl, pela negativa. A sua comida foi tida como aborrecida e Carl como "carente" e "enfadonha". 
Como é óbvio, esta crítica arrasou com Carl, mas é aqui que vem a criatividade de Jon Fravreau enquanto realizador e escritor. A crítica que foi feita ao protagonista tornou-se viral na Internet e, no espaço de horas, percorreu a rede social Twitter à velocidade de segundos. 
Peripécias após peripécias, Carl acaba por se despedir e procurar trabalho por conta própria. O seu desespero é um regalo para os olhos, porque o protagonista refugia-se fazendo comida - diga-se de passagem, com um incrível aspeto. Nem se consegue perceber de que é que são feitos os molhos que ele vai colocando em cima da sua mesa, mas dá vontade de comê-los, só por causa das cores garridas e vivas que saltam logo à vista. 
E é com a ajuda da sua ex-mulher que Carl consegue uma roulote e decide vender sandes cubanas, com aquela carne suculent
a e pão estaladiço e tostado que dá vontade de...ver e chorar para poder provar, nem que seja apenas um bocadinho.
Um outro cliché do filme está no facto de a vendas das sandes cubanas numa roulote remodelada ter sido um sucesso. Mas o fator diferenciador está mais no "porquê" daquele êxito: não foi apenas pela qualidade das sandes, porque disso ninguém duvida. Mas foi pela forma como o filho de Carl adotou uma estratégia de Marketing sem sequer dar por isso, e de uma forma totalmente gratuita: redes sociais. Percy criou um facebook, uma conta Twitter e, lá, postava fotografias e vídeos diariamente e também os próximos locais que o seu pai iria visitar. Através destas publicações, os clientes de Carl quadruplicaram.
E o final, já estão a ver: sucesso garantido. Mas o que fica no ar é: de que forma é que ele conseguiu ter sucesso? 


If I Stay (2014)




Durante toda a nossa vida existem perguntas que pairam sobre nós nos momentos mais aborrecidos e desanimados dos nossos dias: o que é que aconteceria se eu estivesse quase a morrer? Quem é que se iria, realmente, importar e quem é que iria sofrer com a minha partida? Como seria a vida dessas pessoas sem a minha presença?
Bom, R. J. Cutler retratou estas perguntas num único filme, e com sucesso. O realizador criou uma utopia entre a vida e a morte, conseguindo juntar, na perfeição, esta antítese num drama apaixonante.
Os personagens são de tal modo envolventes e carismáticos que sofremos as suas dores e conquistas. Por um lado, temos a protagonista, Chloë Grace Moretz - a menina de "A Invenção de Hugo Cabret" -, que encarna a dócil e angelical Mia, uma adolescente que nutre uma paixão por música clássica e, mais concretamente, por violoncelo, que tocou durante toda a sua vida. Mia apaixona-se por Adam (Jamie Blackley), um jovem roqueiro mais velho que Mia, que tem uma banda de garagem e que, rapidamente, vai ganhando reconhecimento em editoras. Por outro, temos os pais de Mia, que são também o seu oposto: Kat (Mireille Enos), a sua mãe, uma feminista que é mãe a tempo inteiro e que vive a vida a cada dia, e depois Dennis (Joshua Leonard), um pai (também ele) roqueiro que tinha a sua banda de garagem - sacrificando-a pelos seus filhos - e também ele vivia um dia de cada vez. Os seus pais são liberais, extrovertidos e, acima de tudo, amigos de Mia e do seu irmão, Teddy (Jakob Davies). 
O início do filme serve para perceber a união que toda aquela família tem e também as divergências entre Mia e os pais. 
Mia pensava que tinha tudo planeado mas, como tudo na vida, coisas más acontecem e um tufão pode mudar tudo da noite para o dia. Foi Kat quem ensinou isso a Mia, e a jovem parece ter aprendido bem esta lição. Mas aprendeu da pior forma possível: num acidente de carro que vitimou os seus pais e irmão, deixando-a entregue a ela própria, numa luta entre a vida e a morte. 
E é nesta altura que Mia se confronta com a sua própria batalha e também com toda a sua vida. Mia sai do seu próprio corpo e assiste à sua luta na primeira pessoa, como se fosse até a sua alma a vivenciar aquela experiência. A angústia de saber que ficou orfã e sem o irmão faz com que ela queira desistir de viver, mas deverá ela fazer isso? São estas as perguntas que a protagonista faz a ela própria ao longo do filme.
Para nos prender ao ecrã, R. J. Cutler recorre a flashbacks que Mia vai tendo, de modo a tentar perceber realmente o que deve fazer. Nestes momentos, o espetador pode perceber como a sua paixão com Adam surgiu e como ela aprendeu a viver com as divergências com os pais. Também Mia percebeu muito ao recordar-se do seu último ano e meio: o seu talento ao tocar violoncelo, a paixão que a sua família e amigos tem por ela e também o amor que une Adam a Mia, apesar das diferenças que ambos têm. 
O realizador foi soberbo ao aliar a visão de Mia sobre o seu estado, na primeira pessoa, com a viagem que a mesma tem ao longo da sua vida com a sua família e namorado.

Ao longo do filme percebemos como os pais de Mia são liberais com ela e como exigem que ela seja feliz. R. J. Cutler escolheu a palavra "amor", para resolver os problemas existenciais em torno da decisão crucial que Mia tem que tomar e é com base nesse sentimento que a protagonista toma a sua decisão. "Amor" pela família, pela música e por Adam.



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