A protagonista vai tentar fazer justiça pelas próprias mãos, reivindicando o direito de se poder expressar no país onde reside, sem ter medo das consequências. A mesma vai fazer o que outros portugueses emigrantes nunca fizeram: lutar pelo que acha correto.
Mesmo que a comunidade em que está inserida não entenda e a exclua, Cidália vai afirmar-se enquanto pessoa, tendo um pensamento que a fará ganhar a vida.
Com uma narrativa de tipo linear, ou seja, contada de forma sequencial, sem cortes no tempo, João Canijo traz-nos um filme onde tenta retratar uma realidade que vivenciou durante dois anos, enquanto fez pesquisa in loco para a película. Esta realidade é percetível através das técnicas que usou para o filme. Estas centram-se na preferência pelas filmagens feitas no exterior, predominância da luz natural ao longo do filme, takes longos, ou seja, poucas mudanças no que diz respeito aos planos. Isto serve para o filme ter uma continuidade espácio-temporal, sem cortes.
Já a banda sonora é bastante diversificada e tem um grande significado. Temos então músicas portuguesas como “Na minha sombra” da cantora Romana, percetível quando Cidália está no carro a ouvir rádio, ou no baile, quando a cantora canta ao vivo para a comunidade as músicas “Não és homem pr’a mim” e “Já não sou bebé”. Temos também a presença do músico Alexandre Soares, pertencente a uma banda originária do Porto, Três Tristes Tigres. Alexandre Soares compôs a música “Fome de Femme” e não foi a primeira vez que havia trabalhado com João Canijo. Temos uma música francesa, intitulada de “Quartiers du Nord”, de Émilie Jacques. Temos também o fado “Com que voz”, interpretado por Rita Blanco. A banda sonora do filme serve de crítica social à comunidade portuguesa, presa nos costumes lusófonos, uma vez que as músicas da cantora Romana, têm um significado. Esse significado remete para o atavismo vivenciado pela comunidade, parada no tempo e com os hábitos de bailes idênticos aos do país de origem.
Este filme marca um virar no «novo cinema» português, marcado pelos filmes de autor, tal como este é. O autor desta obra trouxe-nos uma Cidália baseada na história grega Antígona, marca simbólica de João Canijo nos seus filmes. O hiper-realismo e a alusão das mulheres como heroínas nos seus filmes, fazem a sua marca autoral, dando-lhe um grande reconhecimento no cinema. Este filme esteve no Festival de Cannes e tem como produtor Paulo Branco, um reconhecidíssimo produtor que esteve ao lado de grandes autores, como Manoel de Oliveira.
Veja o trailer do filme:
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