terça-feira, 13 de novembro de 2018

O que vai ler a seguir é impróprio para quem não gosta de sair da rotina

Ai, Netflix. Quanto mais séries vejo, mais tenho para ver. O que vale é que o frio e a chuva já começam a pedir um bom cobertor e uma sala despida de barulho e luz para pormos em dia aqueles episódios que ficaram em falta. E é aqui que aparece o assunto que me levou a escrever este artigo: "Wanderlust", uma série britânica que nos apresenta uma narrativa diferente daquela a que estamos habituados porque é sobre decisões estranhas para a vida que está virada do avesso ficar de pés assentes no chão. Temos, como já é habitual, aquele humor negro típico britânico mas, acima de tudo, temos à frente dos nossos olhos uma realidade que nos espanca sucessivamente porque não estamos preparados para a história que aí vem - mas atenção: vamo-nos rir, e muito.


A ideia em si não é nova e já tivemos comédias românticas que falam sobre isso: um casal na casa dos 40 que percebe que tem problemas na intimidade e que tenta arranjar uma solução para o divórcio ficar fora do vocabulário deles. Ok, então vão para terapia de casal e passam a sair mais vezes juntos, esforçando-se mais - aqueles clichés típicos, certo? Errado. E é aqui que se dá o grande plot-twist na série e é isto que a diferencia de todos os filmes sobre as crises nos casamentos.


Veja aqui o trailer da série

A solução que Joy (Tony Collete, a mãe do rapaz que via pessoas mortas no "Sexto Sentido", lembram-se?), uma psiquiatra já experiente em resolver os problemas dos outros, encontrou para salvar o próprio casamento com o tipo que tem os óculos mais estilosos de sempre, Alan (Steven Mackintosh), é, no mínimo, desconcertante. Eles não se vão afastar, vão apenas conhecer outros mundos além daquele em que vivem. E acabei por embarcar numa aventura que é o amor e os seus problemas: o que fica depois de perdermos o interesse na pessoa com quem estamos há 20 anos?



Joy resume a solução de ambos com a seguinte metáfora: "Imagine que come no mesmo restaurante a maior parte das vezes na sua vida. E, de repente, outra pessoa fala-lhe noutro restaurante. E ir a este novo não significa que deixe de frequentar o velho restaurante. Apenas significa que agora podes ir aos dois. E a comida que estavas tão enjoada de comer, agora tem um sabor diferente". E é assim que Joy e Alan começam a encarar o seu casamento.


Vi todos os episódios desta série de mente aberta - porque é necessário, porque vamo-nos colocar na pele deles, porque vamos julgar para no fim compreender a matéria destas pessoas que pode colocar tudo a perder. E porque, acima de tudo, é uma série que nos expõe problemas que todos nós podemos viver.


O que os realizadores britânicos fazem muito bem é expor a realidade de uma forma nua e crua - exemplo: "I, Daniel Blake". E é isto que também acontece em "Wanderlust", porque são várias histórias e pessoas tangíveis, que facilmente vemos no nosso dia a dia (como o rapaz que nunca beijou uma rapariga e pede à melhor amiga para experimentar porque tem vergonha que o primeiro beijo "a sério" corra mal; ou como a rapariga que se apaixona pela vizinha do lado que está prestes a divorciar-se do marido).




Em termos técnicos, a série está perfeita. Uma fotografia impecável, estudada ao pormenor, com as luzes nos sítios certos para evidenciar mais emoção quando a cena pede. Um guarda-roupa invejável (deem-me as roupas de Joy, por favor) e deem as roupas de Alan a alguém porque é demasiado estilo para ficar só pela televisão. E, claro, a banda sonora: assim que ouço Cigarettes After Sex no segundo episódio, entendi que esta não era apenas mais uma série, que iria ter uma relação um bocado obsessiva com ela. E, depois, Benjamin Clementine com o seu mais recente álbum que é uma crítica ao que andamos a fazer mal no mundo. E, claro, Tame Impala - não preciso de dizer mais nomes, pois não?


Por todos estes motivos, recomendo vivamente a ver esta série. Não é que seja a série da vossa vida, mas é uma comédia para adultos muito bem feita e que merece a pena ver porque é uma série sobre a vida, no fundo. A minha, a sua, a do seu amigo. A nossa.

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