sábado, 26 de julho de 2014

Noah (2014)





Todos os filmes que abordam a Religião tendem a ser polémicos. O filme Paixão de Cristo (2004) do actor Mel Gibson foi controverso. Porém, não foi isso que aconteceu com "Noé", do talentoso Darren Aronofski - conhecido por ter realizado Requiem for a Dream (2000) e Cisne Negro (2010). Na película, podemos ver uma versão da arca de Noé mais adulta e moderna, mas nada mais do que isso. 
Reza a história que, quando Deus criou o mundo (em sete dias), criou também o Homem na sua total pureza. Sem pecados nem maldades. Eva e Adão provaram que existiam desejos que tinham que ser saciados. 
O que Deus produziu em sete dias, o Homem destruiu em gerações e algo tinha que ser feito. Um dilúvio que terminasse com todo o Mal teria que acontecer. E foi Noé o escolhido para separar o Bem do Mal.
Através da narrativa de Aronofski, podemos perceber logo de início a antítese existencial em torno da família de Noah (Russel Crowe) e do resto da Humanidade, sucumbida aos prazeres da vida.  
Noé foi o escolhido pelo "Criador" para recomeçar uma nova era pela sua bondade e justiça, valores que, na altura, não existiam. Juntamente com os seus três filhos, Ham (Logan Lerman), Shem (Douglas Booth) e Japheth (Leo Carroll), a sua mulher Naameh (Jennifer Connely), a sua nora Ila (Emma Watson), o seu avô Methuselah (Anthony Hopkins) e os Guardiões, Noé começa a construir a arca que iria proteger todas as espécies animais terrestres. 
Além destes personagens, todos os outros teriam que morrer, punidao pela sua crueldade. Mas porquê salvar apenas a família de Noé, se também são humanos e têm desejos e emoções?
É com esta pergunta que Noé se debate ao longo do filme e seria de esperar uma reação dramática do público em torno deste dilema. Mas se era Justiça que tinha que ser feita, todos os humanos teriam que morrer. Foi esta a  decisão inicial do protagonista, que todos teriam que morrer, porque era o mais justo. Até aqui, nada de anormal, mas o desfecho do filme foi tudo menos surpreendente.
Aronofski não acrescentou nada de novo ao filme e limitou-se a contá-lo através de uma narrativa contemporânea, adulta e, decerto, dispendiosa. O realizador não criou nenhuma história realmente dramática em torno dos personagens, embora seja de elogiar o seu esforço em tentar que houvesse um certo tipo de empatia entre o nascimento das filhas de Ila e Shem que, supostamente, teriam que ser mortas à nascença. Mas, se toda a Humanidade teria que sucumbir, o mais normal seria que todos acabassem por morrer e ninguém fosse poupado. Mas o amor, como em todos os filmes, resolve tudo e este não foge à regra. O amor de Noé pelas suas netas faz com que este decida se a sua família pode sobreviver na nova Era, ou não. E, como já era de esperar, claro que optou por deixar a sua família viver e o "Criador" também não se opôs. 
Se o "Criador" quis terminar com a existência da Humanidade por esta não ser, supostamente, boa, porquê deixar viver oito pessoas? Para isso, não tinha feito nada e todas as vidas tinham sido poupadas a um afogamento que, segundo o filme, serviria para purificar o Mundo. É compreensível que, no filme, Noé e a sua família sobrevivam, uma vez que tinham bondade no coração e foram eles quem construiram a arca. Mas bondade todas as pessoas têm, eles não seriam exceção. Prova disso é a menina que Ham conhece, Na'el, que era "inocente" e pertencia ao lado "mau" dos humanos. Mas acabou por morrer. 
Ao sobreviverem, acabaram por não alterar as coisas porque, geração após geração, a Humanidade voltaria a sucumbir às tentações, mais uma vez. 
Também para não fugir à regra dos filmes de Hollywood, Aronofski teve que criar um vilão - Tubal-Caim (Ray Winstone), descendente de Caim - que fez de tudo para que todas as pessoas entrassem na arca, mesmo que tivesse que matar todos os que se opunham a tal. É a partir da população que teria que morrer, que o espetador percebe o antagonismo presente no filme: do lado da família de Noé, a arca e a bondade para com os animais, que foram poupados de tudo e todos. Do outro , pessoas sem dó nem piedade, que matam animais para sobreviverem e pessoas, por ganância e luxúria. 

Local em que a arca de Noé foi construída.
É através deste antagonismo que podemos perceber o contraste do filme nas cores: as quentes permanecem na família de Noé, símbolo do amor, da bondade, da justiça e do bom. Já as frias, bom... adivinhe. Ficam para as outras pessoas, símbolo da crueldade existencial da época.
Local onde a restante Humanidade de mantinha, antes do Dilúvio.












Com uma montagem visível, o filme conta com vários planos aproximados, principalmente nas cenas mais dramáticas (quando Noé tenciona matar as netas). Não são percetíveis slow-motions nem muitos flashbacks, acabando por não tornar o filme, esteticamente, mais apelativo.

Close-up de Noé a tentar matar as suas duas netas.














Existe uma cena em que Noé conta aos seus filhos, nora e mulher a história da criação do mundo em apenas sete dias. A tecnologia utilizada para descrever a evolução diária do planeta foi tudo menos original. Fez lembrar os documentários da Odisseia e do National Gepgraphic sobre o Cosmos. Aqui poderia ter puxado mais pela imaginação e ter feito algo extraordinariamente fantástico para captar a atenção do espetador. 
Segundo dia da criação do Mundo.

É de salientar a excelente atuação de Emma Watson, que deixou de ser a menininha britânica Hermione Granger, do lendário Harry Potter e passou a ser uma mulher com desejos. Também é de mencionar que esta é a segunda vez que Jennifer Connely e Russel Crowe protagonizam um filme e que fazem de casal: o primeiro foi Uma Mente Brilhante (2001), uma história verídica sobre um grande matemático que sofria de uma doença.

Aqui fica o trailer:


Para mais informações, clique aqui.

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